________



há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


sábado, 19 de setembro de 2015


Estou certo de que não terás mais
de viver comigo ou com o que resta de mim.
Deixo-me adormecer durante horas para
que saibas que me afasto a passos largos,
com sombras por detrás.

O meu corpo, por onde quer que vá,
espalha incêndios que não me recordo
como apagar - pensar que um fogo assim se
alimenta cresce reproduz-se e morre
e que nada mais deixa a pedir.

Para que hoje eu entre pela porta
bastará que os nossos corpos se encontrem
num lugar onde não vou dizer.

Chegarás, por teu pé, aonde os velhos descansam
e onde cicatrizes rolam pelo corpo
e pela consciência.

Com o tempo, o que não aprendeste
quando nasceste torna-se inerente a ti, torna-se
um braço, uma mão, um dedo que se estende
na memória e que aponta no mapa da cidade a casa as paredes e o soalho
as prisões os âmagos de quem partiu de
lá - como nós.

E por hoje, fico com fome.

Pelos caminhos as fogueiras como pequenos faróis
no nevoeiro que levanto ao caminhar
enquanto que os meus pés se tornam
rasgos na estrada e eu me dilúo na multidão
para ser escrito.

E um jovem toca-me no ombro e então
desperto e estou próximo a dois passos
do que deixei para trás.

Sérgio Xarepe
________________________________________________________________________________________________________________________________