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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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sábado, 25 de junho de 2016



Não os meus olhos, senhora, mas os vossos,
Eles são que partem às terras que não sei,
Onde memória de mim nunca passou,
Onde é escondido meu nome de segredo.

Se de trevas se fazem as distâncias,
E com elas saudades e ausências,
Olhos cegos me fiquem, e não mais
Que esperar do regresso a luz que foi.


José Saramago
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quarta-feira, 27 de abril de 2016



Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.


José Saramago
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sábado, 19 de dezembro de 2015



Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.


José Saramago
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terça-feira, 13 de outubro de 2015


Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, nascem todas
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago/Luís Cila
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