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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017



Os poemas que não fiz não os fiz porque estava
dando ao meu corpo aquela espécie de alma
que não pôde a poesia nunca dar-lhe
Os poemas que fiz só os fiz porque estava
pedindo ao corpo aquela espécie de alma
que somente a poesia pode dar-lhe
Assim devolve o corpo a poesia
que se confunde com o duro sopro
de quem está vivo e às vezes não respira.


Gastão Cruz
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sexta-feira, 10 de março de 2017



Descrevo o corpo como alguém
que responde somente ao som do tempo
e que não sabe nem
se o chama o som do sangue nem se o tempo
se move ou pára quando pede
alguém que diga alguém as ilegítimas
falas alheias Cede
então o próprio corpo à voz das vítimas
no tempo vil aprisionada
Olhando-se, o actor repete a fala
na mágoa transportada
do palco naufragado Entrenta a sala
morta revolta como água
desidratada Quem a voz escuta
de um mar de mágoa?
Falas alheias são a tua luta

com a memória Se me pede
um corpo que descreva o corpo, olho
o mar como quem mede
a água que de cima ainda olho
do palco náufrago cantado
como cantei outrora uma cidade
O corpo é também água
batendo contra um cais desidratado


Gastão Cruz
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terça-feira, 12 de abril de 2016



Dunas atrás da casa
gafanhotos cor de
madeira cardos cor de areia
ao fim da tarde,
barcos na água rósea
onde a cidade, em frente à casa, cai
De madeira caiada a
casa está
sobre a areia, que escurece quando
a maré devagar desce na praia


Gastão Cruz
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