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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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domingo, 24 de dezembro de 2017



Que noite de Natal, tristonha agreste
De neve amortalhava-se o caminho
E o vento sibilada do nordeste
Por entre as frinchas da porta do moinho

Sentado na velha mó, já carcomida
Onde incidia a luz d´uma candeia
O moleiro de barba encanecida
Com a mulher comia a parca ceia

Próximo do moinho, ouviu-se em breve
Uma voz e o moleiro abrindo a porta
Viu um velhinho todo envolto em neve
Vergado ao peso d´uma esperança morta

Entrai meu peregrino da desgraça
Disse o moleiro ao pálido ancião
Aqui não há dinheiro, existe a graça
De haver carinho, piedade e pão

Vinde comer agasalhar-se ao lume
Festejar o nascer do Deus Menino
Porque a vida somente se resume
Na escravidão imposta p´lo destino

Então o velhinho com uma voz sonora
Pronunciou levando as mãos ao peito
Abençoado seja a toda a hora
Este moinho que é por Deus eleito

Henrique Rego
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sexta-feira, 13 de novembro de 2015


Já mandei ler tantas sinas
Na palma da minha mão
E todas elas constatam
Que as buliçosas meninas
Dos teus olhos é que são
As meninas que me matam

Meninas tão menineiras
Azougadas, leves finas
Descrentes, loucas, profanas
São pequenas feiticeiras
Em janelas pequeninas
De rosadas persianas

Essas meninas são luzes
Que talvez Nossa Senhora
Não tenha iguais no altar
Mas Deus me livre das cruzes
Que há-de ter pela vida fora
Quem delas se enamorar

Essas meninas bulhentas
Mas de afeição tão suave
Não deixando de bulir
Por elas passo tormentas
Fecha as meninas à chave
Que são horas de dormir

Henrique Rego
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sexta-feira, 14 de agosto de 2015


Foi numa pálida manhã de Outono
Soturna como a cela dum convento
Que num vetusto parque ao abandono
Dei largas ao meu louco pensamento

Cortava o espaço a lamina de frio
Que impunemente as nossas carnes corta
E o vento num constante desvario
Despia as árvores da folhagem morta

Folhas mirradas como pergaminhos
Soltas ao vento como os versos meus
Bailavam loucamente p'los caminhos
Como farrapos a dizer adeus

Das débeis folhas lamentei a sorte
Mas reflecti depois de estar sereno
Que bailar à mercê de quem é forte
É sempre a sina de quem é pequeno

Desde então, o meu pobre pensamento
Fugiu para não bailar ao abandono
Como a folhagem que bailava ao vento
Naquela pálida manhã de Outono

Henrique Rego
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https://www.youtube.com/watch?v=Gxctcqbr87Y#t=11

quarta-feira, 8 de abril de 2015


O lenço que me ofertaste
Tinha um coração no meio
Quando ao nosso amor faltaste
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o.

Ainda me lembro esse lenço
Vindo do teu seio túmido
Escondi-o ainda húmido
No peito com fogo intenso

Esse acaso, hoje penso
Qual infantil receio,
Muito orgulhoso guardei-o
Lamento a minha loucura
Porque esse lenço o perjura
Tinha um coração no meio

Esse coração bordado
Por triste sina era o meu
E por isso ele morreu
Quando o lenço foi rasgado

Foi-se a chama do passado
Pois em cinzas sepultaste
Este amor que atraiçoaste
De que serve a dor incalma
Vesti de luto a minh’alma
Quando ao nosso amor faltaste

Beijos, sorrisos e afagos
Me deste. Hei-de esquecê-los
Pois os teus doces desvelos
Com meus beijos foram pagos

Teus olhos eram dois lagos
Lascivio era o teu seio
Foi tudo efémero enleio
Breve e fugaz ilusão
Magoaste-me o coração
Eu fui-me ao lenço e rasguei-o

Henrique Rego
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015


Se para ser Homem, Jesus
Precisou que uma Mulher
O desse á Luz neste Mundo
O Amor de Mãe é a Luz
Que torna o nosso viver
Num Hino de Amor Profundo

Ó águia que vais tão alta
Num voar vertiginoso
Por essas serras d´além
Leva-me ao céu, onde tenho
A estrela da minha vida
A alma da minha mãe

Loucos sonhos juvenis
Fervilham na minha mente
Que me fazem ficar chorando
Quando tu águia imponente
Te vejo tranpor voando
As serras e os alcantis

Quando te vejo voar
Pelo vasto firmamento
Sobre as campinas desertas
Com profundo sentimento
Tu em meu peito despertas
Sonhos que fazem chorar

Ó velha águia altaneira
Vem aliviar-me, vem
Do mal que me vem o ferir
Vê se ao céu, me transportas
Para de beijos cobrir
A alma de minha mãe

Henrique Rego
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