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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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terça-feira, 20 de outubro de 2020



Volta até mim no silêncio da noite
a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausência não embacie
o vidro da memória, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos. Volta
com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
vestido com a mortalha da névoa; e traz
contigo a maré cheia da manhã com que
todos os náufragos sonharam.



Nuno Júdice
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quarta-feira, 22 de abril de 2015


Hoje, perguntando onde estás, e o
que fazes, ouço as palavras tristes
da solidão que me responde, sem
nada me dizer, ao dizer-me tudo.

O que fazes e onde estás, pergunto
ao silêncio que me deixaste; e ouço
em mim a resposta, num eco que
vem de ti, perguntando por mim.

E neste espelho que entre mim e ti
a ausência constrói, outro espelho
reflecte o vazio da sua imagem, até

esse infinito em que a minha pergunta
te responde, para que me devolvas
o eco em que as nossas vozes se juntam.


Nuno Júdice
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sábado, 4 de outubro de 2014


Cai a tarde. Do fundo da alma
vem um barulho de aves em luta com o réptil.
Mas os seus bicos vorazes não encontram
a carne mole; o tronco petrificado rasteja,
procurando o abrigo do corpo,
e volto-me para a parede cuspindo terra
e sangue. Assim veio ter às minhas mãos
a carcassa destruída do animal. Restos duros
e viscosos que a podridão e o musgo devoram
já; e dois olhos inexplicavelmente abertos,
postos em mim até de manhã, ao acordar
com a luz na cara e este poema na cabeça.

Nuno Júdice
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014




O que o teu amor me dá:
a pérola no centro,
a exacta e pequena pérola
por onde a luz se esvai,
num fechar de olhos,
entre nós.
E o riso tão inesperado
nesse campo de cansaço
em que o repouso
cresce, trazendo a razão
aos braços da loucura.
Os teus olhos onde
os meus mergulham, lago
manso da tarde que
empurramos, à janela,
até o dia inteiro
ser madrugada.
E ver-te acordar, como
o brilho que salta de antigas
colinas e se espalha
por frescos lençóis de
onde te roubo, abrindo
a manhã.




Nuno Júdice
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013





No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite. 

Nuno Júdice
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