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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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sábado, 19 de setembro de 2015


Estou certo de que não terás mais
de viver comigo ou com o que resta de mim.
Deixo-me adormecer durante horas para
que saibas que me afasto a passos largos,
com sombras por detrás.

O meu corpo, por onde quer que vá,
espalha incêndios que não me recordo
como apagar - pensar que um fogo assim se
alimenta cresce reproduz-se e morre
e que nada mais deixa a pedir.

Para que hoje eu entre pela porta
bastará que os nossos corpos se encontrem
num lugar onde não vou dizer.

Chegarás, por teu pé, aonde os velhos descansam
e onde cicatrizes rolam pelo corpo
e pela consciência.

Com o tempo, o que não aprendeste
quando nasceste torna-se inerente a ti, torna-se
um braço, uma mão, um dedo que se estende
na memória e que aponta no mapa da cidade a casa as paredes e o soalho
as prisões os âmagos de quem partiu de
lá - como nós.

E por hoje, fico com fome.

Pelos caminhos as fogueiras como pequenos faróis
no nevoeiro que levanto ao caminhar
enquanto que os meus pés se tornam
rasgos na estrada e eu me dilúo na multidão
para ser escrito.

E um jovem toca-me no ombro e então
desperto e estou próximo a dois passos
do que deixei para trás.

Sérgio Xarepe
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terça-feira, 18 de agosto de 2015


Existes como criança que me percorre a alma.
Todos os dias existem para que tenhas
um nome e um corpo por onde te possas deixar
ir:
todas as cicatrizes são visíveis na tua
                pele.

Existe o teu corpo manchado porque assim
posso ver-te sem que te doam as lembranças.

Hoje, digo-te que são     barcos-de-papel
que rasgam o horizonte. Estamos sentados apenas
para que o mundo se escreva à medida
que o olhamos.

Podemos fazer com que se vejam crianças
enquanto esperamos
- desenharemos mundos como se existissem já -
e não apenas nas nossas noites.

Debaixo dos pés resta a maresia - quando
olho, não são volumes que me enchem a consciência
                 mas sim
sombras de homens que me circundam.

Os homens são isso mesmo: o que não conseguiram
ser.

Tentarei fazer com que os gritos soem menos
estridentes quando lançados a meio da noite

mas não podemos fazer com que se vejam, porque os
espelhos têm costas por onde só nós nos
sabemos perder.

Por entre as paredes, sussurra-se o nome
que me parece ser o teu.

Agora espero que o silêncio tome conta das
faces febris no soalho e que os meus pés percam
qualquer sentido

para que me deixem por aqui sem qualquer vislumbre
de alguém conhecido.

Sérgio Xarepe
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