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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


revolver o sangue até a língua ser revólver
revirar os olhos com endereço revoltar a lua
revelar em fotograma ao retardador o céu
rodopiar em árvore um réquiem solar
revoar em ave a rápice aventura
revolver o universo no rito de morrer

redigo refazer reunir recomeçar
(remorso foi não amar de mais) repercutir
ah grande organista é a flor


Dórdio Guimarães
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domingo, 25 de janeiro de 2015


Ah! Este Mulher
No tempo dos cabelos agitas a paz em amor
Todos os dias por ti
O universo se faz e tu não sabes não
Amanhã a mulher joga a vida num vale de lilases
Dele irrompe cheirosa a flor
Que é pródiga em lis e lases
E serei tudo o que de mais fértil o teu ventre der
Mulher
Na estrada à noite não pode haver desacordo
Eia tanta gente amiga são as árvores.


Dórdio Guimarães
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domingo, 5 de outubro de 2014


sucedem-se os dias húmidos por dentro da minha espera
adio o arco-íris o salto montês da cabra que trago no peito
grande a náusea perfuma a dor dos verões suspensos cegos
se aquece a alma erguida na ponta dos pés do desassossego

arredondam-se as estações neste gesticular incerto de índio
largo coração galego esqueço-me com coisas livres minúsculas
vermes róseos longos braços barcos à deriva que tenho do mar
espreito a fundo as horas que me separam do jazigo ou berço

de boca amarga à gargalhada empreendo a lágrima lúcida
solar se verte o sangue no circo dos ágeis dedos de não voar
queria-me eu apto e louro com olhos de maçã cheios de amor

já pestanejo as emoções seguintes que se anunciam verdes
no chegar do veado friorento que vem comer as ervas litorais
dobro-me à mulher à página ao morto inesperado e para quê?

Dórdio Guimaães
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sexta-feira, 5 de setembro de 2014


Cidade. Tapete rolante livro folhagem dossier negro
aberta noite de luzes pensar passar
avulto avulso de pés carnaduras ágeis
figurando pagens soltos passeantes de parques.
Cidade ébria de fósforos luminosa
pirotécnica de olhos de bocas silêncio.
A nuvem do desgosto em cada homem de sobretudo
preto. Tessitura de tecido duro pesado quase frágil.
Ternura tépida que chora o forro coração
agasalhado ardendo galerias insuspeitas tensas
abandono quente.
Foi isso que impeliu enormes caixas de música
à avenida dos que passeiam.
Que lhes tirou o fluido nevoento do andar.
Que nos trouxe até candeeiros azuis
de não dizerem nada.
Foi isso isso tudo que coseu os bolsos. As luvas.
Sim as luvas de pano bordadas aborrecidas
as luvas de enganarem mãos
como fendas no vestuário.
O logro talvez a alegria de mentir
hipótese de pele estranha talvez o gosto
gasto de garantir o macio maio mais amor
quem sabe se o astro cada vez mais branco
e distante ao microscópio.
Glóbulo leucémico no sangue ir
mais longe e doente Graal do amor. Amor. Que é isso?
Eu toupeira das horas tu amazona
amiga de dormidas árvores.
Ó lusíada em seu terraço- astronomia.
Sábia a lua espia!

Ambulância e uma mulher no ventre ferida.
Caramba. Foi menos um homem nascido?
Nisto o relógio pára. Amo-te. Amo-te. Amo-te!
Socorro... Ele contigo ou comigo seria parecido.
Escrevo tenazmente desde o papiro.
Longe longe longe aquele suspiro
de luz é apenas uma estrela caída.

Dórdio Guimarães
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