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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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quarta-feira, 13 de julho de 2016



Voces de muerte sonaron
cerca del Guadalquivir.
Voces antiguas que cercan
voz de clavel varonil.
Les clavó sobre las botas
mordiscos de jabalí.
En la lucha daba saltos
jabonados de delfín.
Bañó con sangre enemiga
su corbata carmesí,
pero eran cuatro puñales
y tuvo que sucumbir.
Cuando las estrellas clavan
rejones al agua gris,
cuando los erales sueñan
verónicas de alhelí,
voces de muerte sonaron
cerca del Guadalquivir.

*

Antonio Torres Heredia,
Camborio de dura crin,
moreno de verde luna,
voz de clavel varonil:
¿Quién te ha quitado la vida
cerca del Guadalquivir?
Mis cuatro primos Heredias
hijos de Benamejí.
Lo que en otros no envidiaban,
ya lo envidiaban en mí.
Zapatos color corinto,
medallones de marfil,
y este cutis amasado
con aceituna y jazmín.
¡Ay Antoñito el Camborio
digno de una Emperatriz!
Acuérdate de la Virgen
porque te vas a morir.
¡Ay Federico García,
llama a la Guardia Civil!
Ya mi talle se ha quebrado
como caña de maíz.

*

Tres golpes de sangre tuvo
y se murió de perfil.
Viva moneda que nunca
se volverá a repetir.
Un ángel marchoso pone
su cabeza en un cojín.
Otros de rubor cansado,
encendieron un candil.
Y cuando los cuatro primos
llegan a Benamejí,
voces de muerte cesaron
cerca del Guadalquivir.


Frederico Garcia Lorca
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quarta-feira, 6 de julho de 2016



E eu que fui levá-la ao rio
Certo de que era donzela,
Mas bem que tinha marido.
Foi a noite de São Tiago
E quase por compromisso.
As lâmpadas se apagaram
E se acenderam os grilos.
Já nas últimas esquinas
Toquei seus peitos dormidos,
Que de pronto se me abriram
Como ramos de jacinto.
A goma de sua anágua
Vinha ranger-me no ouvido
Como seda que dez facas
Rasgassem em pedacinhos.
Sem luz de prata nas copas
As árvores têm crescido
E um horizonte de cães
Ladra bem longe do rio

Após franqueadas as brenhas,
Franqueados juncos e espinhos,
Por baixo de seus cabelos
Fiz um ninho sobre o limo.
Eu tirei minha gravata.
Ela tirou seu vestido.
Eu, cinturão e revolver.
Ela, seus quatro corpinhos.

Nem nardos nem caracóis
Têm cútis com tanto viço,
Nem os cristais sob a lua
Alumbram com igual brilho.
Sua coxas me escapavam
Como peixes surpreendidos,
Metade cheias de lume,
Metade cheias de frio.
Galopei naquela noite
Pelo melhor dos caminhos,
Montado em potra nácar
Sem rédeas e sem estribos.
As coisas que ela me disse,
Por ser homem não repito
Faz a luz do entendimento
Que eu seja assim comedido.
Suja de beijos e areia,
Eu levei-a então do rio.
Contra o vento se batiam
As baionetas dos lírios

Portei-me como quem sou.
Como gitano legítimo.
Dei-lhe cesta de costura,
Grande, de cetim palhiço,
E não quis enamorar-me,
Pois ela, tendo marido,
Me disse que era donzela
Quando eu a levava ao rio.


Gabriel Garcia Marques
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domingo, 12 de junho de 2016



Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra na cintura,
ela sonha na varanda
verde carne, cabelo verde,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Debaixo da lua cigana,
as coisas a estão olhando
e ela não pode olhá-las.

*

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
vêm com o peixe de sombra
que abre o caminho da alba.
A figueira arranha o vento
com a lixa de seus ramos
e o monte, gato matreiro,
eriça suas fibras acres.
Mas quem virá? e por onde?¼
Ela continua na varanda,
verde carne, cabelo verde,
sonhando no mar amargo.

**

Compadre, quero trocar
meu cavalo por sua casa,
meu arreio pelo espelho,
minha faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde os portos de Cabra.
Se eu pudesse, seu moço,
este trato se fechava.
Mas eu já não sou eu
nem já é minha a minha casa.
Compadre, quero morrer
decentemente em minha cama.
De arma branca, pode ser,
com os lençóis de holanda.
Não vês a ferida que tenho
do peito até a garganta?
Trezentas rosas morenas
leva teu peitilho branco.
Teu sangue respinga e cheira
ao redor de tua faixa.
Mas eu já não sou eu.
Nem já é minha a minha casa.
Deixai-me subir ao menos
até as altas varandas:
deixai-me subir!, deixai-me
até as verdes varandas!
Avarandados da lua
por onde estronda a água¼

***

Já sobem os dois compadres
até as altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremulavam nos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

****

Verde que de quero verde.
Vento verde. Verdes ramos.
Os dois compadres subiram.
O longo vento deixava
na boca um gosto raro
de fel, de menta e alfavaca.
Compadre! Onde está, dize-me?
Onde está tua menina amarga?
Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
de cara alegre, cabelo alegre,
nesta verde varanda!

*****

Sobre a boca da cisterna
a cigana tremia.
Verde carne, cabelo verde,
com olhos de fria prata.
O gelo da lua, em pedaços,
ampara-a sobre a água.
A noite se tornou íntima
como uma pequena praça.
Guardas-civis bêbados
na porta golpeavam.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco sobre o mar.
E o cavalo na montanha.


Frederico Garcia Lorca
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016



Ver-te despida é recordar a terra.
A terra lisa, limpa de cavalos.
A terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: confim de prata.

Ver-te despida é perceber a ânsia
da chuva a procurar um débil talo,
ou a febre do mar de rosto imenso
sem encontrar a luz da sua face.

O sangue soará pelas alcovas,
chegará com espada fulgurante,
porém tu não saberás onde se esconde
o coração do sapo ou a violeta.

O teu ventre é uma luta de raízes,
os teus lábios, aurora sem contorno,
sob as cálidas rosas duma cama
os mortos gemem esperando turno.


Frederico Garcia Lorca
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sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha dentro a torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

Frederico Garcia Lorca
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segunda-feira, 17 de agosto de 2015



Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então alguma vez?
Que culpa tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem desfolhar a lua!!

Frederico Garcia Lorca
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