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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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domingo, 6 de julho de 2014


Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei

Jacques Prévert
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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro deixa de cantar
E o gato deixa de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Funerais maravilhosos
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Só tristeza e saudades

É preciso nunca fazer as coisas pela metade.

Jacques Prévert
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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014


  Com a cabeça diz não  
  mas com o coração diz que sim
  diz que sim ao que aprecia  
  e que não ao professor
  cá o temos nós de pé  
  em pleno interrogatório
  a caírem-lhe em cima problemas  
  mas súbito um riso destravado
  toma conta dele  
  e põe-se a apagar tudo
  numerais e palavras  
  as datas e os nomes
  frases e ratoeiras  
  e apesar das ameaças do mestre
  sob a gritaria das crianças encantadas  
  ali naquele quadro negro da desgraça
  com giz de todas as cores  
  põe-se a desenhar 
  o rosto da felicidade  




Jacques Prévert
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