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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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quarta-feira, 30 de março de 2016



Sou o silêncio que ficou
uma cidade igual às outras
onde os gritos se esvaem
e a tua morte se tornou minha.

Em tuas asas
quebradas
tudo se desintegra
menos a memória.


Ana Marques Gastão
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014



Vens de noite no sonho
sem pés
entre páginas
de gasta paciência
quando a música findou
e teu sorriso se desfez
como um grão de pólen.


Vens no veneno oculto
de meus dias
no silêncio
dos meus ossos
devagar
arrastando em queda
o nosso mundo.


Vens no espectro
da angústia
na escrita
inquieta
destes versos
no luto maternal
que me devolve a ti.


A escuridão desce então
sobre o meu corpo
quando o rosto da morte
adormece na almofada.


Ana Marques Gastão
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014


Por uma vez conta como o corpo se ajusta à superfície
das tuas palavras. Fala de um depois anterior, desse sono
demente na fissura da luz; do violento voo ou da ferida
cíclica, a ausência excedendo-se na pele quando a desoras
perfumas minhas mãos. Estende-se o calor aos lábios,
o Verão simula a duração no verso, circula a água, vigorosa,
no fundo do poço até desaparecer na cama muda.
Nada é o que parece, lembra-se o que se esquece e eu digo
os dedos descalços dissolvem em tua boca o mel à flor dos
destroços. Olha-me: deita o olhar em meu vestido, tira-o
num gesto ébrio e precipitado como a um prisioneiro,
os peixes sobem lestos no lago imoderado e a noite volta,
lenta, adormecida. Dou-te o que não tenho – a história
de um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,
poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-me
o que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.

Ana Marques Gastão
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