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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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domingo, 8 de outubro de 2017



Queria que os portugueses
tivessem senso de humor
e não vissem como génio
todo aquele que é doutor
sobretudo se é o próprio
que se afirma como tal
só porque sabendo ler
o que lê entende mal
todos os que são formados
deviam ter que fazer
exame de analfabeto
para provar que sem ler
teriam sido capazes
de constituir cultura
por tudo que a vida ensina
e mais do que livro dura
e tem certeza de sol
mesmo que a noite se instale
visto que ser-se o que se é
muito mais que saber vale
até para aproveitar-se
das dúvidas da razão
que a si própria se devia
olhar pura opinião
que hoje é uma manhã outra
e talvez depois terceira
sendo que o mundo sucede
sempre de nova maneira
alfabetizar cuidado
não me ponham tudo em culto
dos que não citar francês
consideram puro insulto
se a nação analfabeta
derrubou filosofia
e no jeito aristotélico
o que certo parecia
deixem-na ser o que seja
em todo o tempo futuro
talvez encontre sozinha
o mais além que procuro.


Agostinho da Silva
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quarta-feira, 16 de março de 2016



Sou marujo mestre e monge
marujo de águas paradas
mas que levam os navios
às terras por mim sonhadas
Também sou mestre de escola
em que toda a gente cabe
se depois de estudar tudo
sentir bem que nada sabe
mas nem terra ou mar me prendem
e para voar mais longe
dum mosteiro que não houve
e não haja me fiz monge


Agostinho da Silva
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segunda-feira, 23 de novembro de 2015


Meu amor que te foste sem te ver
que de mim te perdeste sem te amar
quem sabe se outra vida tu vais ter
ou se tudo se perde sem voltar

ou se é dentro de mim que tem de haver
tanta força no meu imaginar
que o poeta que é Deus o vá reter
e te dê vida e faça regressar

para de novo o sonho desfazer
num contínuo surgir e retornar
ao nada que dá ser ao que é querer
ao fado que só dá para se dar

por tudo estou amor e merecer
o que venha para eu te relembrar
só adorando o nada pretender
só vogando nas águas de aceitar.

Agostinho da Silva
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quarta-feira, 30 de setembro de 2015


Minha praia ardorosa e solitária
aberta ao grande vento e ao largo mar
tu me viste querer-lhe com a doce
piedade das sombras do luar

teus cabos se adiantam como braços
para abraçar as ninfas receosas
que fugindo oferecem sobre as vagas
suas nítidas formas amorosas

braços paralisados por desejo
que o mundo e sua lei não permitiu
ou suspendeu amor que livre jogo
maior que posse em fugaz tempo viu

e como vós me alongo e como tu
areia me ofereço a toda sorte
por sua liberdade ou por destino
que por só dela seja belo e forte.

Agostinho da Silva
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quarta-feira, 23 de setembro de 2015


Crente é pouco sê-te Deus
e para o nada que é tudo
inventa caminhos teus

Agostinho da Silva
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segunda-feira, 6 de julho de 2015


Para que tenhais o gosto
de ficardes vós confusos
como eu às vezes estou
vos chega um livro composto
de poemas abstrusos
da névoa que também sou.

Agostinho da Silva
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quinta-feira, 2 de julho de 2015


É ciência subir os Himalaias
e criar matemática sem fim
mas é cultura vê-la poesia
e ter os Himalaias dentro em mim

Agostinho da Silva
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sexta-feira, 8 de maio de 2015


Teria passado a vida
atormentado e sozinho
se os sonhos me não viessem
mostrar qual é o caminho

umas vezes são de noite
outras em pleno de sol
com relâmpagos saltados
ou vagar de caracol

quem os manda não sei eu
se o nada que é tudo à vida
ou se eu os finjo a mim mesmo
para ser sem que decida.




Agostinho da Silva
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domingo, 5 de abril de 2015


Algum dia um novo Papa
anunciará altivo
que Deus é raiz quadrada
de um quantum negativo

e o Deus que tanto procuro
em que atingido me afundo
é aquele ser-não-ser
do que acontece no mundo

da matéria mais que densa
é que é divertido ser
ali se nada acontece
tudo pode acontecer

Agostinho da Silva
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