________



há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Mostrar mensagens com a etiqueta Paul Celan. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Paul Celan. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 25 de julho de 2017



Olhos:
brilhantes da chuva que caiu
quando Deus me mandou beber.

Olhos:
ouro, que a noite me contou nas mãos,
quando colhi urtigas
e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.

Olhos:
noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão
e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes
saltei pelos lugares da eternidade.


Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________


sexta-feira, 24 de junho de 2016



Quem arranca de noite o coração do peito deseja a rosa.
Pertencem-lhe a sua folha e o seu espinho.
A esse põe ela a luz no prato,
com o seu sopro enche-lhe os copos,
só para ele sussurram as sombras do amor.

Quem arranca de noite o coração do peito e o arremessa ao alto:
não falha o alvo,
apedreja a pedra,
a esse bate-lhe o sangue fora do relógio,
o tempo faz-lhe soar na mão a sua hora:
pode brincar com bolas mais bonitas
e falar de ti e de mim.


Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________


quarta-feira, 14 de outubro de 2015


Nos rios a norte do futuro
lanço a rede, que tu
hesitante carregas com
sombras
escritas por pedras.

Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________

quarta-feira, 19 de novembro de 2014


Não busques nos meus lábios a tua boca,
nem diante do portão o forasteiro,
nem no olho a lágrima.

Sete noites mais alto muda o vermelho para vermelho,
sete corações mais fundo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.


Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________

sexta-feira, 24 de outubro de 2014


Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim:
juntos
deixa-nos respirar o véu
que nos esconde um do outro,
quando a noite se dispõe a medir
o que ainda falta chegar
de cada forma que ela toma
para cada forma
que ela a nós dois emprestou.

Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________

sábado, 20 de setembro de 2014


Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.

Paul Celan
________________________________________________________________________________________________________________________________