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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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segunda-feira, 11 de julho de 2016



Formosura que excedeis
mesmo as grandes formosuras!
Sem ferir, sofrer fazeis,
e sem sofrer desfazeis
o amor das criaturas.
Oh, laço que assim juntais
duas coisas tão díspares!,
não sei porquê vos soltais,
pois atado força dais
pra ter por bem os pesares.
Quem não tem ser vós juntais
com o Ser que não se acaba;
sem acabar acabais,
e sem ter que amar amais,
engrandeceis vosso nada.


Teresa de Ávila
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quarta-feira, 22 de junho de 2016




Esta divina união
com o amor por quem eu vivo
faz de Deus o meu cativo
e livre meu coração;
mas causa em mim tal paixão
ver a Deus em meu poder
que morro de não morrer.

Ai! como é longa esta vida!
Que duros estes desterros,
este cárcere e estes ferros
em que a alma está metida!
Só esperar a saída
me causa tanto sofrer
que morro de não morrer.

Ai! Que vida tão amarga
se não se goza o Senhor!
E, se tão doce é o amor,
não o é a esperança larga;
tire-me Deus esta carga
tão dura de padecer,
que morro de não morrer.

Somente com a confiança
vivo de que hei de morrer;
porque, morrendo, o viver
assegura-me a esperança:
morte em que o viver se alcança,
bem cedo te quero ver,
que morro de não morrer.

Olha quanto o amor é forte;
vida, não sejas molesta;
vê que em te perderes resta
de te ganhares a sorte;
venha já a doce morte,
venha-me a morte a correr,
que morro de não morrer.

Essa que no alto deriva
é a vida verdadeira:
té que torne a vida à poeira,
não se goza estando viva;
morte, não sejas esquiva;
morrendo estou em viver,
que morro de não morrer.

Vida, como obsequiá-lo,
a meu Deus, que vive em mi,
senão perdendo-te a ti,
por melhor poder gozá-lo?
Quero morrendo alcançá-lo,
pois só Ele é o meu querer,
que morro de não morrer.

Estando ausente de ti,
que vida pudera ter,
senão morte padecer
a maior que jamais vi?
Lástima tenho de mi,
por tamanho mal sofrer,
que morro de não morrer.


Teresa de Ávila
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sábado, 11 de junho de 2016



Sou vossa, sois o meu Fim:
Que mandais fazer de mim?

Soberana Majestade
E Sabedoria Eterna,
Caridade a mim tão terna,
Deus uno, suma Bondade,
Olhai que a minha ruindade,
Toda amor, vos canta assim:
Que mandais fazer de mim?

Vossa sou, pois me criastes,
Vossa, porque me remistes,
Vossa, porque me atraístes
E porque me suportastes;
Vossa, porque me esperastes
E me salvastes, por fim:
Que mandais fazer de mim?

Que mandais, pois, bom Senhor,
Que faça tão vil criado?
Qual o ofício que haveis dado
A este escravo pecador?
Amor doce, doce Amor,
Vede-me aqui, fraca e ruim:
Que mandais fazer de mim?

Eis aqui meu coração:
Deponho-o na vossa palma;
Minhas entranhas, minha alma,
Meu corpo, vida e afeição.
Doce Esposo e Redenção,
A vós entregar-me vim:
Que mandais fazer de mim?

Morte dai-me, dai-me vida;
Saúde ou moléstia dai-me;
Honra ou desonra mandai-me;
Dai-me paz ou guerra e lida.
Seja eu fraca ou destemida,
A tudo direi que sim:
Que mandais fazer de mim?

Dai-me riqueza ou pobreza,
Exaltação ou labéu;
Dai-me alegria ou tristeza,
Dai-me inferno ou dai-me céu;
Doce vida, sol sem véu,
Pois me rendi toda, enfim:
Que mandais fazer de mim?

Se quereis, dai-me oração;
Se não, dai-me soledade;
Abundância e devoção,
Ou míngua e esterilidade.
Soberana Majestade,
A paz só encontro assim:
Que mandais fazer de mim?

Dai-me, pois, sabedoria,
Ou, por amor, ignorância;
Anos dai-me de abundância,
Ou de fome e carestia;
Dai-me treva ou claro dia,
Vicissitudes sem fim:
Que mandais fazer de mim?

Se me quereis descansando,
Por amor o quero estar;
Se me mandais trabalhar,
Morrer quero trabalhando.
Dizei: onde? como? e quando?
Dizei, doce Amor, por fim:
Que mandais fazer de mim?

Dai-me Calvário ou Tabor;
Deserto ou terra abundante;
Seja eu como Jó na dor,
Ou João sobre o peito amante;
Seja vinha luxuriante
Ou, se quereis, vinha ruim:
Que mandais fazer de mim?

Ou José encarcerado,
Ou José Senhor do Egito;
Ou David sofrendo, aflito,
Ou David já sublimado;
Ou Jonas ao mar lançado,
Ou Jonas salvo, por fim.
Que mandais fazer de mim?

Já calada, já falando,
Traga frutos ou não traga,
Veja eu na Lei minha chaga,
Ou goze Evangelho brando;
Quer fruindo, quer penando,
Sede a minha vida, enfim!
Que mandais fazer de mim?

Pois sou vossa, e Vós meu Fim:
Que mandais fazer de mim?


Teresa de Ávila
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quarta-feira, 1 de junho de 2016



Deus meu, se o amor que me tendes
É como o amor que vos tenho,
Dizei: por que me detenho?
Ou Vós, por que vos detendes?
— Alma, que queres de mim?
— Deus meu, não mais do que ver-vos,
— E, que temes mais de ti?
—O que mais temo é perder-vos.

Um alma em Deus escondida,
que tem que desejar,
senão amar e mais amar,
e em amor toda escondida
tornar-te de novo a amar?

Um amor que ocupe vos peço,
Deus meu, minha alma vos tenha,
para fazer um doce ninho
onde mais a ela convenha.


Teresa de Ávila
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