________



há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Teresa Horta. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Teresa Horta. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 15 de abril de 2016

*



Não sei como consigo
amar-te tanto
se querer-te assim na minha fantasia
é amar-te em mim
e não saber já quando
de querer-te mais eu vou morrer um dia
perseguir a paixão até ao fim é pouco
exijo tudo até perder-me
enquanto, e de um jeito tal que desconhecia
poder amar-te ainda
um outro tanto


Maria Teresa Horta
________________________________________________________________________________________________________________________________


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016



Abrigo-me de ti
de mim não sei
há dias em que fujo
e que me evado

há horas em que a raiva
não sequei
nem a inveja rasguei
ou a desfaço

Há dias em que nego
e outros onde nasço

há dias só de fogo
e outros tão rasgados

Aqueles onde habito
com tantos dias vagos.


Maria Teresa Horta
________________________________________________________________________________________________________________________________


domingo, 20 de dezembro de 2015



Que me importa
amor
que seja dia
ou que seja noite iluminada

Que me importa
amor
que seja a chuva
ou um novelo de paz a madrugada

Que me importa
amor
que seja o vento
ou a flor o fogo mais aceso

Que me importa
amor
que seja a raiva

Que me importa
amor
que seja o medo


Maria Teresa Horta
________________________________________________________________________________________________________________________________


domingo, 9 de março de 2014

Elas
iludem as escurezas
dos rostos
a negrura das nódoas

do corpo

Desatam os nós que lhes
atardam, atam e algemam
a alma e os pulsos

Conversam entre si
coisas de enredo
lançam Luz nos recantos

das vagas

Trocam receitas de venenos
murmuram palavras escusas
desejos inolvidáveis

«Oh, que dureza ruim!
Ataduras e debruns
missanga de muita estrela

Cassiopeia, raízes
sangrantes
das próprias veias»

Elas
inventam a mata
na clareira assombrada
embrenhadas na vigília

recriam, criam, dominam

Viram pombas, profetisas
com uma alvura de cera
pálidas rosas da China

«Oh, tormenta amendoada
solidões e desespero
enquanto de madrugada

Cavam, enterram, devassam
pespontando com o riso
as dobras de calamento»

Elas
bradam, elas buscam
sibilas e amazonas
emudecem as camélias

e as roseiras nervosas

Feiticeiras ardilosas
filhas da harmonia
partilham as tempestades

derrubam, suturam, fiam

«Oh, doçuras sigilosas
no aço do destempero
de incêndios e desesperos

Virados pelo avesso
a paixão e a razão
entre si tão divididas»

Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência

Tornam-se donas do tempo
a semearem agruras
pelos meandros do vento




Maria Teresa Horta
_____________________________________________________________________________________________________________________________

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014




Este travo inteiro
a amêndoa
amarga

A ameixa
a doce a ferver no tacho

Esse travo na língua
a fermentar no corpo

A febre a nascer
a crescer debaixo

Em baixo...
a saia a subir nas coxas
e esse cheiro mais grosso se entreabro

Asa pernas os lábios
e o gosto
onde o sabor da amêndoa se torna
mais amargo

É esse o momento
o instante exacto
em que tudo se prende
ao gesto sem sentido

A calda no ponto
deixa a língua em brasa

E eu tiro pela cabeça
o meu vestido
Maria Teresa Horta
_____________________________________________________________________________________________________________________________