________



há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Mostrar mensagens com a etiqueta Adriano Correia de Oliveira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Adriano Correia de Oliveira. Mostrar todas as mensagens

sábado, 9 de julho de 2016



Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Trago boca pra comer
E olhos pra desejar.
Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.

Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder.

*

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao Norte.
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham.
Nem forças que me molestem
Correntes que me detenham.

Quero eu e a natureza
Que a natureza sou eu.
E as forças da natureza
Nunca ninguém as venceu.

*

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.

Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

*

Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.


António Gedeão, Adriano Correia de Oliveira
________________________________________________________________________________________________________________________________


terça-feira, 5 de julho de 2016

*



Quem poderá domar os cavalos do vento
Quem poderá domar este tropel
Do pensamento à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
Que diz por dentro do que não se diz
A fúria em riste do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
Que gota a gota escrevem nas vidraças
Pátria viúva a dor que passas?
Pátria viúva a dor que passas?

Quem poderá prender os dedos farpas
Que dentro da canção fazem das brisas
As armas harpas que são precisas?
As armas harpas que são precisas?

Quem poderá domar os cavalos do vento
Quem poderá domar este tropel
Do pensamento à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
Que diz por dentro do que não se diz
A fúria em riste do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
Que gota a gota escrevem nas vidraças
Pátria viúva a dor que passas?
Pátria viúva a dor que passas?

Quem poderá prender os dedos farpas
Que dentro da canção fazem das brisas
As armas harpas que são precisas?
As armas harpas que são precisas?


Manuel Alegre
________________________________________________________________________________________________________________________________


terça-feira, 14 de junho de 2016



Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Mata-me a mim, que sou teu!
Morte que mataste lira
Mata-me a mim que sou teu
Mata-me com os mesmos ferros
Com que a lira morreu

A lira por ser ingrata
Tiranicamente morreu
A morte a mim não me mata
Firme e constante sou eu
Veio um pastor lá da serra
À minha porta bateu
Veio me dar por notícia
Que a minha lira morreu


Adriano Correia de Oliveira, Popular
________________________________________________________________________________________________________________________________


segunda-feira, 13 de junho de 2016



Senhora partem tão tristes
Meu olhos por vós, meu bem
Senhora partem tão tristes
Meu olhos por vós, meu bem

Que nunca tão tristes vistes
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém
Outros nenhuns por ninguém.

*

Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida
Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida

Da morte mais desejosos
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida
Cem mil vezes que da vida.


João Ruiz de Castelo-Branco, Adriano Correia de Oliveira
________________________________________________________________________________________________________________________________