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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017



Por ti deixei, do meu rebanho lento
a alva timidez; da minha casa
o fogo acolhedor tornado brasa
e a brasa morta transformada em pranto.

Das mãos de minha mãe ficou-me o manto,
da boca de meu pai restou-me a frase
e estes meus olhos são cisternas rasas
onde à tardinha vem beber o vento.

Ponho a teus pés o meu desejo triste
que se renova numa força eterna,
e te ofereço uma fraqueza a mais;

pedaço do meu tronco que partiste,
carne, que foste um pouco de meu cerne!
À minha própria carne tornarás.


Renata Palottini
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segunda-feira, 18 de abril de 2016



se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos
se ao menos esta dor visse
se ela saltasse fora da garganta
como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse
se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir saliva fora
sujar a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre e tem o direito de não sofrer
se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
se ao menos essa dor sangrasse…


Renata Palottini
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