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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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sexta-feira, 12 de abril de 2019



Em outros tempos chegavam à ponte das candeias multidões
em penitência suplicando graças
para os soldados da guerra, histórias de amor,
as doenças, para ganhar dinheiro, juventude,
para desejos secretos, por exemplo muitos homens
desentendiam-se com a sua gaita,
se lhe diziam: preparada? Ela respondia: não!
Bastava cruzar a ponte com uma vela acesa
que não podia apagar-se até à cruz do moinho.
Mas o vento soprava, uma brisa descia
da montanha e as mãos fatigavam-se
de tanto proteger a chama e então toca a tentar,
tentar de novo, um mês, um ano...
A uma velha quase a chegar ao fim
pegou-se-lhe fogo à roupa e la se foi tudo, roupa, tempo e feitio.
Desde essa desgraça os crentes
abandonaram a devoção e mais ninguém lá vai.

No passado domingo dei uma espreitadela à ponte
e vi o filho tolo de Filomena
com uma vela acesa na mão.
A chama estava firme e nem a brisa do fundo
do rio a movia. Qual será a graça que suplica?
Uma vida normal ou continuar a sua loucura?
Antes de chegar à cruz do moinho
logo ali, a dois passos, parou
e soprou sobre o lume.


Tonino Guerra
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quarta-feira, 26 de setembro de 2018



Vinte dias atrás meti uma rosa no copo
perto da janela em cima da mesinha.
Quando reparei que as folhas
perdiam o vigor
sentei-me diante do copo para ver a rosa morrer.

Esperei um dia e uma noite.

A primeira pétala desprendeu-se às nove da manhã
e deixei que caísse em minhas mãos.
Nunca tinha estado ao leito de morte de um moribundo
nem quando a minha mãe morreu,
pois então estava de pé, ao longe, no fundo da rua.


Tonino Guerra
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