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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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terça-feira, 8 de julho de 2014


Atalhei a noite,
Tentei chegar ao trilho mais certo dos teus passos
Caminhando no cerejal.
A velha casa era agora um borrão no crepúsculo
Lembrava-me a fúria das crianças em louca correria.

Percorri, às apalpadelas, o quarto escuro,
produzido pela idade
E foi aí que pedi a Purviance um copo de água.
Ela adiantara um torrão de açúcar para que a memória
Não fosse um frango fugido do galinheiro.

Alimentara-me de tudo isso, e nem o teu corpo encontrara
Para que a aventura fosse mais doce,
Mais secreta de certezas.
Sentira-me envergonhado por ser surpreendido
Quando te procurara
Tateando uma imagem de ti.

Olhei pela janela.
Vi os ciganos em viagem em direção ao sul.
Não sei se ias.
Não sei.

Eu fui.

Rui Pedro Gonçalves
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quarta-feira, 2 de abril de 2014

As avenidas estão cheias de silêncio.
Os automóveis - objectos de outrora - deslizaram por entre carris
E reconstituem objectos macios, que levamos à boca de sede.


Encontrei o homem do trompete, quando passava junto ao rio. 
Tocava
Para ninguém
Os restos de uma melodia quase esquecida.


O único habitante da cidade sombria era o homem do trompete - pensei.


Vi-o pela primeira vez em Cabo Ruivo.
estava sentado num contentor. Tinha atrás de si
Uma cidade imensa, vazia de espelhos. À sua frente, longas vertigens de uma
Tempestade que desaparecera por entre a fuligem
E que inventava novas formas corrosivas.
O homem tocava, de facto. E a música ressoava alto por toda a cidade
Expandida nos metais,
Nos tubos contorcidos de uma antiga fábrica de brinquedos.


Perguntei por ele, mais tarde. Perguntei por mim, isto é
Tentei saber o que ficara dos dias.


Tentei perguntar.


Sim,


Tentei.

Rui Pedro Gonçalves
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