Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
Pouco importa aonde vai no tempo dividido.
Já não é meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda. Quem de facto o amou?
Procura o seu igual no voto dos olhares.
O espaço que percorre é a minha fidelidade.
Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a.
Ele é preponderante sem tomar parte em nada.
Vivo no seu abismo como um feliz destroço.
Sem que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro.
No grande meridiano onde inscreve o seu curso é
a minha liberdade que o escava.
Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
Pouco importa onde vai no tempo dividido.
Já não é meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda. Quem de facto o amou
e de longe o ilumina para que não caia?
René Char
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