________



há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


Mostrar mensagens com a etiqueta René Char. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta René Char. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 11 de março de 2015


Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
Pouco importa aonde vai no tempo dividido.
Já não é meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda. Quem de facto o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares.
O espaço que percorre é a minha fidelidade.
Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a.
Ele é preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço.
Sem que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro.
No grande meridiano onde inscreve o seu curso é
a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
Pouco importa onde vai no tempo dividido.
Já não é meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda. Quem de facto o amou
e de longe o ilumina para que não caia?

René Char
________________________________________________________________________________________________________________________________

domingo, 1 de março de 2015


Diz aquilo que o fogo hesita a dizer,
Sol do ar, claridade que ousa,
E morre porque o disseste por todos.

René Char
________________________________________________________________________________________________________________________________

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015


Ensinou-me a voar sobre a noite das palavras,
longe do aborrecimento dos navios ancorados.

Não é o glaciar que nos importa
mas o que o torna possível indefinidamente,
a sua verosimilhança solitária.

Liguei-me a ódios entusiásticos
que ajudei a vencer e depois abandonei.
(Basta fechar os olhos para já não se ser reconhecido.)
Retirei às coisas a ilusão
que causam para se protegerem de nós
e deixei-lhes a parte que nos concedem.
Vi que nunca haveria mulher para mim
na MINHA cidade.
O frenesim das pândegas,
simbolicamente,
justificaria a minha boa vontade.

Atravessei deste modo a idade da solidão
até à morada seguinte d’o HOMEM VIOLETA.

Mas ele só dispunha do triste estado civil das suas prisões,
da sua experiência muda de perseguido
e nós,
nós só tínhamos a sua descrição de evadido.


René Char
________________________________________________________________________________________________________________________________