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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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domingo, 8 de novembro de 2015


entre a porta e a mão que bate à porta
vai a distância da carne à madeira
a distância do corpo que toca esse pedaço de árvore
à existência da própria árvore
toca a mão na madeira (direi porta?)
como se tocasse toda a substância da casa
o seu vento as suas vozes os seus cheiros
os seus objectos a totalidade do espaço que se adivinha para além das janelas e das paredes
bate na tarde à porta a mão
na tarde ou talvez pela manhã
acompanhando a solidão que transforma o tempo
à porta a mão identifica todo o corpo que no exterior toca bate acorda
tarde à porta bate a voz da montanha
não apenas pássaro ou árvore pedra ou riacho
mas toda a pedra repetida no interior da sombra e do som dos pássaros na escada
toda a terra concentrada na mão que bate à porta
acariciando o retrato da inquietação e do inverno
entre a porta e o interior da casa
dos livros
reúne cor e ramagem frio e alimento
viagens como naufrágios ou inscrições
registadas na habitação
da tristeza
(para o clóvis artur)

Pedro Sena-Lino
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segunda-feira, 20 de julho de 2015


ainda que os lábios acordassem
ocultas rosas cemiteriais

ainda que manhã antes da noite
os sítios numa língua por açoite

ainda que as palavras penetrassem
a líquida substância dos dias


Pedro Sena-Lino
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quinta-feira, 30 de abril de 2015


a boca está rente à superficie do mar
onde adormecem de som os planetas

as ondas vagas de ontem desfeita espuma
árvores templos breves se levantam
onde o coração onde acordará

descem dos altares os deuses prometidos
esses que trazem o céu da pele à alma
e as estrelas primeiras embarcações do céu
mergulham de essência a madrugada

não me conheço mais enquanto não morrer
pedra mais profundamente o que o ser souber
o que me adormece aí é fonte
o lugar térreo da longa hesitação


Pedro Sena-Lino
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sábado, 28 de março de 2015


a boca está rente à superficie do mar
onde adormecem de som os planetas

as ondas vagas de ontem desfeita espuma
árvores templos breves se levantam
onde o coração onde acordará

descem dos altares os deuses prometidos
esses que trazem o céu da pele à alma
e as estrelas primeiras embarcações do céu
mergulham de essência a madrugada

não me conheço mais enquanto não morrer
pedra mais profundamente o que o ser souber
o que me adormece aí é fonte
o lugar térreo da longa hesitação


Pedro Sena-Lino
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sexta-feira, 19 de setembro de 2014


as pessoas morrem nunca partem de nós, eu separei-te
de mim, cortei-te-me. em cinemas imaginários filmados por
mãos iluminadas usei teu corpo. coloquei o deserto do teu
coração rente à minha boca. lavaram-me o desespero as
lágrimas que choravas no escuro. parti-te.
estou a fazer-te luto. desejei-te tanto. discuti-te tanto
contigo. agora percebo que te atirei demais contra tantos
poemas.
agora encontramo-nos. eu tenho de colar-te os restos
para conseguir ver-te para além do que trago molhado nos
olhos, acabou o passeio no meu jardim interior, pleno de estatuas
quebradas, as noites acabo sempre assim, abraçado ao rosto
restos da pedra, agradecendo-lhe as imagens.

Pedro Sena-Lino
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