As canetas estão flácidas, mas a cidade recusa-se a morrer.
Fervo na alma, quem diria, de tão muda e queda,
Os olhos fecho e mal me mexo,
Enquanto a culpa em mim se hospeda
Debitamos palavras sem nexo
Com o vício dos profissionais do sexo
E assim nos entretemos nos serões declamados
Alienados, pamonhas, pedrados,
Armados em intelecas
Damos versos em vez de quecas
Aconchegamo-nos no buraco infestado
Entre o papel e o cigarro enrolado
Dilatam-se as veias por vocação
Tamanha emoção, frémito erudito
E a noite é isto, com todo o preceito,
Mão ora no ar, ora no peito
Sem pudor na entoação ou no grito
Alimentamos a veia literária
Num ritual da palavra vazia
Esquecendo a reforma agrária
Ignorando a merda na pia
E a alma, (que podia ser lama),
Ferve e uiva para dentro:
Sai daqui<
Vai para as escadas da câmara
Grita palavras de ordem
Come os remorsos que te
mordem
Esgaça a baixa, fode no centro
Descobre a radioactividade
Entra pelo granito adentro
Ressuscita a cidade
Resgata-a do mijo nas esquinas
do medo do escuro
Sobe à Torre dos Clérigos
vertical tão puro
E faz, lá de cima, tamanho basqueiral,
Que acorde o Rio
E faça do teu Porto o tema
De um poema
Susana Guimaraens
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