E de verde se vestiu a madrugada. E a estrada era o verde
e era a entrada por onde o verde corria por fora da estrada.
Então o verde cansou-se e mudou-se de amarelo como farpela
E já não havia verde - o magenta magoou-se no lápis de pastel:
estava a sanguínea na pausa do tempo e não havia tempo,
nem amarelo, nem magenta. Apenas a madrugada cantava
e o verde voltava à madrugada. E já não era silêncio.
E já não era amanhã. E já não era o vício de cruzar as pernas,
de se oferecer como pélvis ao sacrifício de uma cama manchada:
e o verde descansava de ser verde. Era árvore. Era parede.
Era pénis entre as tetas do tempo. Era o verde que penetrava
por orifícios onde o som refulgia. E era memória. E era dia.
E era ouro quando o cacau mergulhava por dentro da estrada
à entrada da noite. E já não era silêncio: era amanhã, o corpo
aberto em grito de infinito. E o ouro era verde como um suicídio,
mas a corda quebrava, a noite quebrava, o verde cobrava o vento
que se desfazia em tempo, que se desfazia em água. E inundava
a estrada que era verde porque a vida era verde. Era verde e cantava.
Nuno Rebocho
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