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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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sexta-feira, 22 de abril de 2016



Eu sempre perguntava coisas tontas,
é certo. Perguntava, por exemplo,
se voltarias a amar-me tanto
como nos dias do amor mais jovem,
ou mesmo mais, ou mesmo mais que nunca,
mesmo mais que a ninguém, e se serias
capaz de confessá-lo ante qualquer.
É certo, perguntava coisas tontas,
não merecia uma resposta séria.
Aquele ser, mais escuro que a noite
mais escura da alma, respondia
sem olhar-me nos olhos: «Nunca mais».

Amalia Bautista
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quarta-feira, 4 de março de 2015


Duas mulheres jogavam as cartas.
Eram as duas formosas e perversas.
As duas trapaceavam. A partida
prolongava-se mais do que o costume,
a julgar pelos gestos de impaciência
que nenhuma ocultava. Vida e Morte
se chamavam. E tinham apostado
o coração de um homem, como sempre.


Amalia Bautista
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sábado, 7 de fevereiro de 2015


Quando nos encaminhamos para o amor
todos vamos ardendo.
Levamos amapolas nos lábios
e uma centelha de fogo no olhar.
Sentimos que o sangue
nos golpeia as têmporas, as pelves, os pulsos.
Damos e recebemos rosas vermelhas
e vermelho é o espelho do quarto na penumbra.

Quando voltamos do amor, vagarosos,
desprezados, culpados
ou simplesmente estupefatos,
regressamos muito pálidos, muito frios.
Com olhos e cabelos envelhecidos e o número
de leucócitos nas alturas,
somos um esqueleto e sua derrota.

Porém continuamos indo


Amalia Bautista
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

*


Sempre acreditei que eram as palavras
que saíam da minha boca, e que só elas
podiam apaziguar a minha morte.
Hoje sei que da minha boca sai um fio
transparente e tenaz como uma insónia
que te amarrou à minha vida para sempre.


Amalia Bautista
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014


No fim de contas são poucas as palavras
que nos doem de verdade, e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
E são também muito poucas as pessoas
que nos fazem bater o coração, e menos
ainda com o correr do tempo.
No fim de contas, são pouquíssimas as coisas
que na verdade importam nesta vida:
poder amar alguém e ser amado,
não morrer depois dos nossoa filhos.

Amália Bautista
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quarta-feira, 16 de abril de 2014


Conta-me outra vez, é tão encantador
que não me canso de ouvir.
Repete-me outra vez que o casal
do conto foi feliz até morrer,
que ela não foi infiel, que a ele sequer
ocorreu enganá-la. E não te esqueças
de que, apesar dos problemas,
continuavam se beijando toda noite.
Conta-me mil vezes, por favor:
é a história mais bonita que conheço.

Amália Bautista
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Nunca saberemos se os enganados
são os sentidos ou os sentimentos,
se viaja o comboio ou a nossa vontade
se as cidades mudam de lugar
ou se todas as casas são a mesma.
Nunca saberemos se quem nos espera
é quem nos deve esperar, nem sequer
quem temos de aguardar no meio
de um cais frio. Não sabemos nada.
Avançamos às cegas e duvidamos
se isto que se parece com a alegria
é só o de que nos voltámos a enganar.

Amalia Bautista
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