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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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quinta-feira, 8 de maio de 2014


Meu jeito visionário — meu astrolábio.
Meu ser mirabolante — um alcatruz.
De variadas coisas fiz a minha esperança
e sempre em várias coisas vi a minha cruz.

Aos padrões que em vários pontos encontrei
na rota íntima de vestes tropicais
eu dei as mãos, serenas e intactas,
as minhas dores mais certas e reais.

Nos vários sítios que — abismos —
toldaram minha voz por um olhar,
eu evitei o perigo e os prejuízos
à voz feita de calma, meu cantar.

Aos rasgos que, de outrora, evocados
foram sempre pelo seu valor,
eu dei a minha tez de dúvida e de espanto,
o meu silêncio amargo, o meu calor,

E aos pontos cardeais que em volta, vacilantes,
desalentavam já meu ser cativo,
parei o gesto, roubei o pólo sul da esperança
como lembrança para um dia altivo.

João Rui de Sousa
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014


Contemplo em contínuas bátegas
a peneira destes sonhos.

Elas batem e assim parto
ora em casebre medonho

feito de tábuas esventradas
e cheiros de urina e ranho,

ora em viagens por estradas
que vão dar ao abandono,

ao descalabro de um fim,
ao desconchavo de um estrondo:

ficar aquém de um jardim,
ir ter a um poço sem fundo,

com muitas voltas rodadas
por caminhos sem retorno,

só andamento e só fraga
no furtivo das paisagens

que são linho ou são peçonha,
que são o susto em viagem.

Reencontrar quem não via
na sem memória dos dias,

no roçagar das esquinas,
no estilhaçar destes ombros

no fresco escrever das vagens
em sapais – lagos de outono.

Reconheço-me nessas bátegas
que só param findo o sono.

João Rui de Sousa
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