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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017



Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.


Carlos de Oliveira
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quarta-feira, 8 de junho de 2016



Arde no lar o fogo antigo
do amor irreparável
e de súbito surge-me o teu rosto
entre chamas e pranto, vulnerável:

Como se os sonhos outra vez morressem
no lume da lembrança
e fosse dos teus olhos sem esperança
que as minhas lágrimas corressem.


Carlos de Oliveira
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sábado, 31 de outubro de 2015


seguindo o fio
da tinta
que desenha
as palavras
e tenta
fugir ao tumulto
em que as raízes
grassam,
engrossam, embaraçam
a escrita
e o escritor:


Carlos de Oliveira
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quarta-feira, 22 de julho de 2015


Algures,
no lugar
mais frio
da memória,
mas
nítido
como um centímetro
quadrado de neve
que pede
a própria luz
à algidez interior,
surge
a paisagem
de líquenes,


Carlos de Oliveira
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sábado, 21 de fevereiro de 2015


A cidade caía
casa a casa
do céu sobre as colinas,
construída de cima para baixo
por chuvas e neblinas,
encontrava
a outra cidade que subia
do chão com o luar
das janelas acesas
e nop ar
o choque as destruía
silenciosamente,
de modo que se via
apenas a cidade inexistente


Carlos de Oliveira
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domingo, 21 de setembro de 2014


De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais.
E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas
da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa:
«o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim,
deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo,
esmagar o coração.»

Carlos Oliveira
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terça-feira, 24 de junho de 2014


As águias não deviam ser aves
mas corações aduncos e com asas:

se olhares à flor dos campos e das casas
sentes o peito maior do que a amplidão:

se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.

Carlos de Oliveira
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segunda-feira, 2 de junho de 2014


E embora
o teu ódio me degrede
a este inferno,
e me condene
a séculos de sede,
também te acuso, terra:

de sendo fogo
os não queimares,
de tendo vento
os não levares,
de trazeres sobre o dorso
o horror dos mares
onde eles se não somem;

de não soltares
a besta vingadora
no nosso orgulho de homens.

Carlos de Oliveira
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