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há o perigo de um grito lindíssimo

quando andas assim comigo no invisível




Mário Cesariny

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sexta-feira, 31 de julho de 2015


como foi possível esta longa marcha para a mediania?
o que significa viver dentro de um corpo
de onde a consciência se retirou há muito
esta embalagem vazia?

rodeados de pensamento tóxico
submersos em epifanias da normalidade
estamos numa guerra invisível
desconhecida até hoje da humanidade
sitiados por armas virtuais em destruição imparável

sufocamos sob camadas de managers
designers, adidos, conselheiros, assessores
pequenos soldados de chumbo
reclinados nas dunas da abreviatura
agasalhados na linguagem religiosa
da performance a todo o custo

como nas hordas de lepra medieval
trazemos sinos que anunciam corpos contaminados
lentos, pensativos
suspensos numa mudança de vírgula
reescrevendo sem horário

confiando na oscilação do universo
lançamos toda a fortuna
no princípio da incerteza

alguém sem voz continuava a respirar
entre nuvens de piolhos
afundado na lama

a vaca sagrada do declínio está gorda e descorada
no estábulo ninguém está seguro
uma telha partida
um vidro espetado no ânus
cheiro a despojos humanos entranhado na memória
três gerações de analfabetos com opiniões sobre tudo
de cinco em cinco minutos grunhem o inútil

estamos atados
pelo síndroma locked-in
o estado mais póximo
de ser enterrado
vivo


Rosa Oliveira
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