As palavras — disse — as palavras silenciosas, nossa única companhia;
procuradas, prolongadas (elas que nos prolongam);
a paisagem aprofunda-se; descobres não só os ossos,
mas também belos corpos, e asas —
que vestes enquanto elas te vestem e te volatilizam.
Partes. Somos encontrados atrás das portas,
atrás de paredes altas, bolorentas. Tu o sabes —
este é o único meio de comunicação. O tabique de madeira
a separar os quartos transforma-se em vidro. Vês as palavras
cair sobre a mesa nua do porão com um ruído cavo
juntamente com os insetos da noite à volta da lâmpada clandestina.
Os modelos
Não esqueçamos nunca — disse — as boas lições, aquelas
da arte dos Gregos. Sempre o celeste lado a lado
com o cotidiano. Ao lado do homem, o animal e a coisa —
uma pulseira no braço da deusa nua; uma flor
caída no chão.
Recordai as formosas representações
nos nossos vasos de barro — os deuses com pássaros
e com outros animais,
juntamente com a lira, um martelo, uma maçã, a arca, as tenazes;
ah!, e aquele poema em que o deus, ao terminar o trabalho,
retira o fole de perto do fogo, recolhe uma a uma as ferramentas
dentro da arca de prata; depois, com uma esponja, limpa
o rosto, as mãos, o pescoço nervudo, o peito peludo.
Assim, limpo, bem arranjado, sai à tardinha, apoiado
nos ombros de efebos de ouro — trabalhos de suas mãos
que têm força, e pensamento, e voz; sai para a rua,
mais magnífico que todos, o deu coxo, o deus operário.
Yannis Ritsos
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